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Text by Pompeu

A poucos dias do meu 50.° aniversário, tive o desejo de compor este texto para descrever o meu percurso artístico e explicar porque abracei a causa pictórica.

Em 1976, inscrevi-me no curso de pintura e escultura na Academia Alvarez no Porto. Duas vezes por semana, eu vinha no comboio ao Porto para assistir às aulas. Durante meses entre a Estação da Trindade e a Rua da Alegria eu sonhei com a perspectiva, a luz, a cor, a técnica, o êxito e a consagração.

Em 1978, fui para Paris.

 

Pintei nas ruas de Montmartre e "montei atelier" na Place du Thetre junto ao Sacre-Coeur, onde fiz inúmeros retratos a carvão e sanguínea de turistas.

Assim consegui os francos necessários para sobreviver, de forma simples e carenciada, na cidade-luz. Durante vários anos voltei a Paris.

Em 1986 fui convidado por Jean Camion para expor na sua Galeria na Rua Beaux-Arts em frente à Escola de Belas-Artes de Paris.

A exposição foi um êxito. Pela primeira vez, os franceses tiveram a oportunidade de ver pinturas a óleo feitas com simples garfos, que apelidamos de peinturefourchetes.

Dezenas de alunos da Escola de Belas-Artes visitaram a exposição e ficaram fascinados, perplexos...

Tanto, que me levaram 37 garfos, com os quais eu tinha improvisado uma escultura que coloquei no centro da Galeria, tendo gasto as minhas parcas economias.

Bendita seja a irreverência dos jovens...

 

Foi uma exposição fértil em acontecimentos e alegrias.

Recebi a visita de José Gervásio Leite, Cônsul-Geral de Portugal em Paris, de José Augusto-França, de Manuel Cargaleiro, Amândio Martins e de Abílio Pimenta que estava em Genève e veio a Paris ver a minha exposição. Jean Camion apresentou-me os seus amigos franceses.

 

No Lipp conheci François Mitterrand - um grande senhor muito humano que me cumprimentou com afectuosa estima.

Convencido que era um dos melhores pintores do mundo e que tinha conquistado Paris, com os bolsos cheios de francos, apresso-me a comprar uns slips, os que usava estavam demasiado velhos e sujos, e regressei a Portugal à aldeia-mãe.

 

No ano seguinte voltei a Paris para expor no Centro Cultural Português da Fundação Calouste Gulbenkian as minhas pinturas hiper-realistas: os grandes pilares e a "coluna dorsal" de toda a minha obra pictórica.

Pinturas de grande dimensão feitas com um rigor técnico, cromático, anatómico e iluminístico surpreendentes.

Um hino de louvor às gentes simples e amáveis da minha aldeia...

A minha tese de doutoramento, o meu mestrado em artes plásticas.

 

Na vernissage estiveram presentes José Augusto-França, Georges Gulbenkian, Teresa Mendes, Cargaleiro, Shan Lima, Bertino, Daniel Lacerda, Costa Camelo, Egídio Álvaro e muitos outros amigos que jamais esquecerei...

 

Em anos seguintes fiz exposições em Paris com "vernissages" lindíssimas e grande número de convidados, além da presença dos Embaixadores de Portugal - Dr. Gaspar da Silva, Dr. Sherman de Macedo; Dr. António Monteiro e os meus amigos Lino Lagoa e Abílio Pimenta que iam de Portugal a Paris, prepositadamente...

Na Caixa Geral de Depósitos em 1991, na Império/Assurance em 1996, na Caixa Geral de Depósitos em 2000 e no Banco Comercial Português em 2002, onde novos leitores se juntaram à minha causa. Assim se abriram as portas do universo artístico internacional...

 

Em 1990 fui viver para os Estados Unidos da América.
Após três meses de trabalho intenso a pintar e a desenhar, submetendo-me a horários tão longos que poucos suportariam, em Junho expus individualmente na Galeria Eighty Four em Nova Iorque.

O seu director, Joe Bascon tinha por mim uma grande admiração dizendo, frequentemente, que nunca viu um pintor tão criativo e metódico como eu. O embaixador de Portugal junto da Unesco - Dr. Fernando Reino e o Cônsul-Geral de Portugal - Dr. Quintela Paixão, receberam-me de braços abertos e com grande amizade... A exposição foi um êxito....

A América acolhera-me no seu seio, alimentando a minha auto-estima.

 

Em Abril de 1994 cheguei ao aeroporto de Narita no Japão.

Durante quatro meses, vivi e pintei em Tóquio, onde expus na TIAS - Tokyo International Art Show e na Galeria Garou Monogatari.

Fui recebido por José e Manuela Alvarez, do Centro Cultural Português em Tóquio que me trataram como um filho seu e foram fundamentais na concretização do meu "sonho do oriente".

O Embaixador de Portugal - Dr. João Salgueiro convidou-me para jantar em sua casa tratando-me, ele e sua esposa, como se eu fosse um príncipe.

Ao ver quanto os jovens japoneses adoravam a minha pintura eu senti que valeu a pena tanto esforço e que o futuro me reservava um lugar de eleição e gratas recordações...

 

Em 1997, vinte anos depois, após uma curta estadia em Londres voltei a viver em Barcelona.
Dividi o meu tempo entre Figueras, Cadaquês e Port Lighat. Percorri o universo de Dali. Pintei nos seus cenários e junto a sua casa, que visitei três vezes, e ali fiz várias viagens de barco até Cabo Creus...

Senti a alegria de viver em estado permanente de deslumbramento, num universo surrealista. Três meses depois, expus na Galeria Marabelló em frente ao Hotel Ritz. Na "vernissage" criei amizade com: Joan Abelló, Maria Dei Mar, Pierre LIobet, Pedro Aires Abreu, Jaqueline Chenu e Xavier Cot…

É um facto que tive a determinação suficiente para fazer pinturas que considero verdadeiros ícones de paixão e criatividade: testemunhos, raízes da vida, sofro, amolo e bebo, silenciando a dor, verde Minho, terra-mãe, silêncios meus, R-de revolta, amantes da criatividade, viagens ao centro da harmonia, das doenças do século, "un jour dans Ia plage", nos jardins de Pompeu, dos sonhos do pintor, viagem ao núcleo da poesia, metamorfoses do ser, raízes dos sentidos, metáfora pompeuana, a farsa, dos sonhos do pintor, presente in-determinado, o pintor sou eu, na noite da broadway, essência e criatividade, tempo de liberdade, diagnóstico precoce de patologia sexual,”l´age d´or", e muitas outras obras deste e do núcleo temático gestual...

Que é um privilégio ser representado pela Galeria D´Arte 46 e que tem grande significado para mim expor, desta vez, na Ordem dos Médicos no Porto.

Nesta catedral, onde está inscrito o nome de Médicos ilustres que sacrificaram a sua vida pessoal e familiar para nos proporcionarem o maior bem que o ser humano pode ter - a saúde... 

 

28 anos depois, eu continuo a acreditar que criei um estilo pictórico pessoal, Pompeuano, heterogéneo, criativo, original e contemporâneo.

Que o meu ADN e os meus cromossomas, têm uma composição específica que estimula a minha sensibilidade artística...

Que devo contemplar cada vez mais a elegância das borboletas, o chilrear dos pássaros, as folhas das árvores e os poemas de liberdade que as gaivotas nos transmitem... Hoje, 50 anos depois, eu continuo a pintar apaixonadamente...

 

Cepães, Abril 2006

Orlando Pompeu

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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