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Alguns dos testemunhos sinceros de grandes senhores da nossa sociedade e apreciadores da obra do Metre Pompeu

O homem, artista que seja, é sempre Ele e a sua Circunstância. E Pompeu não foge a esta regra. Na sua pintura de «figuração abstractizada», o Norte Português, multiplamente recriado, manifesta-se luminosamente, nos seus verdes, ocres e azuis, e, também, no vermelho, universal, do sangue, ou nos vermelhos inumeráveis de um sol poente, que se afunda no azul do oceano infinito.

Os temas da sua pintura actual expressam o sincretismo da vida, das emoções, o ecologismo, até, do estar complexo dos seres na natureza.

A sua pintura toma-nos a imaginação pela mão, e leva-nos, já meninos confiantes, a um mundo encantado, de fantasia, sonhos, surpresas e indagações! Assim, nela, um homem — deus e demónio — toca num piano a nossa música predilecta. E esta, num ápice, leva-nos a um baile ritual de aves, talvez em homenagem panteísta à deusa-flor que as alimenta. Do seu voo somos levados à menina, cujos sonhos esvoaçantes se ancoram, contudo, à generosa terra-mãe, expressa na fonte de vida, que uma multiplicidade de seios sugere. Neste percurso de suavidade e encantamento, de portas abertas à beleza, vamos projectando sonhos nossos, nas expressões pictóricas de Pompeu. E no fim deste percurso sem fim sentimos que, também a Pompeu, Deus deu a chave das «portas maravilhoso».

 

António Ramalho Eanes            

 

Fevereiro, 1994

 

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Água, céu e terra, verdes, azuis e ocres, com alguns tons rosa ou vermelho de Sol poente, dominam profundamente a pintura actual de Orlando Pompeu.

Influência, talvez, tamisada pela imaginação, de um Norte granítico, fecundo, festivo, ancorado nas tradições mas em plena expansão. Corpos que se entrelaçam ou se acariciam furtivamente, em largos planos curvilíneos, espirais e turbilhões. Bailes ingénuos atravessados pelas correntes majestosas dos desejos ocultos. Aves e flores alcatifam o espaço. Os olhos são lagos melancólicos à espera do choque.

Curiosa, esta figuração abstractizada. Impossível de inscrever numa qualquer corrente plástica dominante, nacional ou internacional. Mas perfeitamente de acordo com as ideias do artista, que deseja, antes de tudo, beber os «conteúdos ignorados e reveladores da (sua) imaginação criativa», e estabelecer o «registo de uma fonte emotiva».

Trata-se, pois, de uma pintura bucólica. Mas atormentada, inquieta, exprimindo uma grande necessidade de amor. Uma pintura de encontros, de relações humanas simples, nas quais espreita, numa ou noutra tela, uma certa ironia social.

Reflexos fugidios apercebidos numa superfície líquida, ondulante, faces diurnas e lunares que deixam entrever sentimentos contraditórios mas sempre suaves.

Pompeu é um viajante tranquilo. Entre Portugal, Paris e Nova Iorque ele traz sempre consigo as reminiscências da província que o viu evoluir, atento à linguagem da Natu-reza, tocado pelo encanto subtil deste universo tão particular que parece cristalizado no tempo, cintilante e longínquo. Não é a mera aparência que ele mostra, que ele pinta. É a essência, o coração frágil e palpitante de existências que parecem querer resistir às tempestades frenéticas do quotidiano.                  

 

Egídio Álvaro

Paris, Fevereiro 1992

 

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A cidade de Paris continua a ser, na Europa, o grande centro das artes, onde continuam a ser apresentadas, cada ano, centenas de exposições de muitas centenas de artistas do mundo inteiro.

Residente aqui há mais de trinta anos, mantenho o maior interesse por tudo o que é Português e especialmente se relacione com a cultura Portuguesa. Foi assim que há cerca de três anos visitei uma exposição de um pintor Português, de Fafe, o Pompeu.

Gostei muito da exposição e fiquei surpreendido com uma colecção de fotografias de pinturas de grandes dimensões que o Pompeu me mostrou e mais tarde veio a expor também aqui em Paris.

As pinturas, para além da composição e da cor excelentes, tinham a novidade, para Paris, de trazerem a história, a cultura e a surpreendente verdade da gente de uma aldeia do Norte, que é a sua.

Este meio cosmopolita de Paris gosta e aceita tudo o que é diferente, original e solidamente construído. Por isso, o Pompeu deixou aqui muitos amigos e admiradores, dos quais muito sinceramente faço parte.

 

Manuel Cargaleiro

Paris, Junho 1988

 
 
   

 

 
 

 

O imaterial e o Testemunho

 

Pompeu, também Orlando, nascido no interior, curtido pelo Ocidente e pelo Oriente, hóspede das nuvens, onde habitualmente reside, não por simples encontro com o Impossível, mas por fatal encantamento dos acessos interditos. Ei-lo, pintor por diktat do instinto e cursado nas academias do convi(ver). Entre Fafe e Porto, Paris e Tóquio, Rio de Janeiro e Barcelona, São Francisco e Nova Iorque, foi-se firmando e reafirmando, foi-se sublimando sem abdicar de trono e do sonho originários. Soube levar e elevar Cepães, como metáfora de autenticidade, a poética consumível e traduzível pela sofreguidão das metrópoles.

Os seus documentos são códices de psicologia e de geografia. Não se aprimorou como funcionário de estampas. Conciliou e reconciliou impressões de localidade com simbologias do «des-formal» e da «des-convergência». Com suave pedagogia deslizou pelas babilónias da imagem os ícones do seu princípio de ser. E como se constata: compatibilizando testemunho e indefinido, reconhecível e intransmissível, típico e indagativo. Não teve de anular ou dissimular a sua galeria de paisagens e figuras. Somente as fez coabitar com as pulsões da urbanidade, da tecnologia, da especulação criativa. Pompeu sintetiza o emocional e o social, o conteúdo e o continente, deixando a pairar, na atmosfera pictórica, um limbo e um nimbo de imaterialidade, mesmo no rigor da geometria, mesmo no vigor da fisionomia.

Dá-se, pois, uma festiva trégua dos mitos da maternidade e da errância, da comunidade e da individualidade, da imaginação e da transgressão. Ele reinventa Mozart no rio Vizela e Verdi em St. Cloud, porque a infância e a liberdade marcam os seus gestos, protestos e afectos.

Pompeu, também Orlando, nómada do ilimitado, em passagem pelo Porto, onde os limites se envolvem em neblinas.

 

César Príncipe

 

Fevereiro, 1994

 

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Uma pintura metafórica

 

 

Em tempos de ortopedias econocráticas, com as suas engrenagens rangentes e mal lubrificadas, como pode o artista mover-se num espaço outro, mantendo-se ao mesmo tempo imerso e emerso, a respirar dentro e fora de um universo alienado? Entre uma representação referencial reificante e uma fuga para o devaneio aleatório, há múltiplas vias a ensaiar, onde o imaginário e o simbólico se articulem como «formas de liberdade».

A pintura polimórfica de Orlando Pompeu é uma tentativa permanente de invenção dessas formas, num discurso visual de propensão abstractizante, sem deixar de ser figurativo, cujas variações geométricas relevam de uma estilização metafórica, em que se lê ora uma subtil metamorfose poética ora uma fina ironia crítica. Cada composição, nos seus lineamentos e cromatismos caleidoscópicos, ganha assim uma iconicidade e um movimento sempre cambiantes, com a sua harmonia e o seu ritmo, que lhe conferem um sentido por vezes emblemático.

Pompeu patenteia-nos aqui toda a gama de registos e recursos que já lhe conhecía-mos de exposições e catálogos anteriores. Desde a denúncia das «doenças do século», cujas metástases são escalpelizadas com um humor ácido, até à prefiguração de uma mundividência utópica, com as suas «viagens» ao «templo da harmonia» ou ao «núcleo da poesia», o artista combina a desmontagem do real com o apelo a uma sua reconstrução onírica que tem laivos de surreal. Sem se esquecer dos «sonhos do pintor», obsessivos para lá da própria morte, de que uma «metáfora» só aparentemente necró-fila nos dá conta da sua violência criadora.

Pela performance de «uma arte que dá gosto e gozo ver» — como dela escreveu J.-A. França —, Orlando Pompeu confirma o êxito da sua itinerância expositiva, que tem ido do Norte matricial às grandes metrópoles nacionais e internacionais do Ocidente e do Oriente, revelando uma maturidade estética que confere à sua pintura uma posição significativa no nosso meio cultural. Por certo que ele prosseguirá a sua busca e o seu trabalho com uma exigência inquieta. E sempre insatisfeita.

 

José Augusto Seabra

Paris, Junho 1996

   

 

 
 

 

 

Sobre o que sabe do seu dia-a-dia, e das gentes que o preenchem e vivem, Orlando Pompeu faz uma pintura ingénua, ou «naïve», num grau «N» involuntário. Fosse ele americano e teria sido «hiper-realista»; mas a emigração de carne e osso ou de espírito não o tenta, e nos arredores de Fafe acha o nosso pintor suficiente salvação. Assim, entre os dois pólos duma função estética sofisticada, pêlo a pêlo, pele a pele, ruga a ruga, e do conhecimento directo desses pêlos, peles, rugas, meias feitas de lã e piolhos catados, ou pirilaus pendentes de crianças mal alimentadas — a arte de Pompeu tem a sua escolha necessária e suficiente. É insólita. Não sei bem se há ou houve em Portugal hiper-realistas de imitação entre outras modas assim ou assadas, com ano e meio de duração média possível; deles não me teria eu importado. De Pompeu, porém, sim, vendo-lhe a pintura e ouvindo-lhe as explicações aplicadas que vêm do fundo da sua aldeia, em pessoas e coisas. Por assim lembrar, ele olha a verdade como o velho morgado camiliano da sua terra já a sabia, em suas certezas que a cidade fictícia não podia abalar... As mãos engelhadas que Pompeu pinta, ou os cachaços tanados, as barbas por fazer, as filharadas rotas, têm e hão-de ter anos e anos de trabalhos — que de longe vêm e nunca assaz mudarão, nestes mundos de pobreza, fatalidade e resignação a que o pintor se habituou por dentro da sua experiência lá nascida... Pompeu pratica, com tranquila e amável convicção, uma arte que dá gosto e gozo ver. Como se reinventasse um mundo invisível na sua evidência quotidiana, modesta, teimosa, e só ao final impertinente, porque ninguém a esperava assim, de Fafe para baixo — e até mesmo Paris...

 

José Augusto França

 

Paris, Julho 1987

 

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`Vontade de viver'

na obra de Orlando Pompeu

 

O sorriso, entre o astuto e o simples, de Orlando Pompeu, nos mostra que, apesar de do seu próximo meio século de existência, nossa personagem não rompeu por inteiro com os seus primeiros anos, os seus primeiros sonhos, as suas raízes, as primeiras brincadeiras. E ao contemplar o que o sua mão há criado sobre a madeira ou sobre a tela esse descobrimento resulta todavia maior, está muito mais oculto. Porque, apesar das transformações que experimentou na sua obra, fruto de uma grande madureza, resultado também de um plural de vivências -variedade de ramas, distintas, sempre frescas, mas filhas de um tronco comum, em que Orlando Pompeu nos oferece sempre alguma coisa daquele menino que veio ao mundo em Cepães, Fafe, norte do querido Portugal.

 

VOZ romântica lusa produziu aquele desgarrado grito, que só a sua reprodução gero um escalafrío <Tenho vontade de morrer>. A recordação não a faz de maneira caprichosa. Serve-nos para assinalar que o conjunto da obra deste artista desprende mensagens de signo totalmente distinto, Habita na obra de Pompeu muita vida; caudalosos rios de vida trasladados a tela, reflexo inequívoco da maneira de ser de este pintor luso.

 

ORLANDO POMPEU parece por em prova a lei da gravidade em muitos dos seus seres pictóricos. O faz com um certo descaramento, com uma dose não pequena de ousadia, mas o artista sempre seguro do que traz entre mãos. Instantâneo ou ubiquidade nos oferecem igualmente como rasgos característicos de muitos de esses seres. Resultam corpos que aparecem e desaparecem, graças a esse zig-zag tão bem conseguido, com uma grande perícia no uso do traço, e na eleição da gama das cores. Em alguns quadros de Orlando Pompeu há também um algo substituindo as palavras por linhas ou traços mais ou menos grossos de que os teóricos da literatura consideram essencial em toda boa novela: exposição, nó e desenlace.

 

JOSÉ FRANCISCO ARMESTO FAGINAS

Membro fundador do Instituto de Estudos Viguese

 

 

 
 

 

  
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